quarta-feira, 29 de setembro de 2010

É só um piano

Quando eu tinha uns 7, 8 anos, minha mãe me matriculou em uma aula de musicalização. Ela achava importante que eu tivesse contato com vários instrumentos antes de escolher o que eu quisesse tocar (sim, porque, nas palavras de dona Marcia, “tocar um instrumento é fundamental para o desenvolvimento das crianças”).
Logo de cara me apaixonei pelo piano. Meu pai me deu um tecladinho para me enganar, até ter certeza de que eu realmente continuaria as aulas. Mas depois não teve jeito, teve que comprar um piano de verdade. Ah, que alegria! Ele era a coisa mais linda do mundo inteiro. Enooooorme para os meus 1m e pouquinho. Uma coisa!
Fiz aulas até uns 13 anos e depois desisti. Tudo culpa de uma professora com pedagogia de menos e grosseria de mais. Mas a paixão pelo instrumento continuou e sempre que podia, tocava um pouquinho.
Voltei a fazer aulas já adulta, mas acabei abandonando por falta de tempo. E ele ficou lá, enfeitando a sala de casa. Vez ou outra eu aparecia, arriscava algumas notas, e ia embora novamente. E apesar de nos últimos dois anos e meio eu quase não ter mexido nele (fui morar com o Dan e o piano ficou na casa dos meus pais), sabia que o piano era meu, só meu. E que um dia eu voltaria a fazer aulas e a tocar aquelas teclas que eu tanto amava.
Mas a vida nem sempre é como a gente sonha, né? Meus pais se divorciaram, venderam o apartamento, e o piano teve que sair junto com a mudança. Eu me fiz de durona, banquei a prática. Acertei tudo com uma loja de instrumentos musicais por e-mail e fui fechar negócio pessoalmente no sábado.
Estava tudo certo até eu precisar entregar a nota fiscal e a garantia – que eu guardava havia 18 anos – para o vendedor. Deu um aperto no peito, os olhos marejaram. Ele percebeu (que vergonha!), mas eu fui saindo de fininho, respirei fundo e me recusei a chorar. “É só um instrumento”, repeti pra mim mesma da loja até a minha casa.
Hoje o pessoal da loja foi até a casa da minha mãe para buscá-lo. Pensei em dar uma passadinha lá ontem à noite para me despedir, tocar aquela meia dúzia de músicas das quais ainda me lembro. Mas preferi evitar o drama. Afinal, é só um piano. É só um piano. É só um piano...

4 comentários:

  1. Dani, não é um piano qualquer, é o seu piano, cheio de lembranças, recordações... é horrível se desfazer de algo assim, né? bjs

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  2. É duro sim, Fê. Mas não vale a pena cultivar tristeza, né? Se Deus quiser, um dia eu vou morar em uma casa bem grande e vou comprar outro piano, novinho, que vai me dar novas lembranças e recordações. Vai ser legal!
    Beijocas,

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  3. Aiiii senti o mesmo gosto amargo quando depois de adulta meu pai resolveu vender meu instrumento porque eu não 'usava' o acordeon há anos ! Eu achava que ele era meu, pois meu pai vendeu ( com minha autorização dolorida, claro ) e pagou o gramado da chácara dele.
    Doeu ouvir isso...mas, e o exercício do desapego fica onde né ?
    Adorei conhecer seu blog, viu ?
    Beijos

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  4. Hmmm senti o mesmo que você qdo autorizei meu pai vender minha harmonica, fiz conservatório e tudo ! hoje, adoro a idéia da iniciativa deles, mas, o instrumento foi errado..rs
    Só que não foi fácil ouvir que minha Todeschini vinda diretamente de Bento Gonçalves, 120 baixos,linda pagou o gramado da chácara dele.
    E viva o desapego !
    Adorei bater papo com vc. Adorei seu blog.
    Beijos lindinha

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